Paratleta iniciou na natação em Cubatão, após sofrer dupla amputação em acidente de trem
O nadador Gabriel Melone, que iniciou na natação paralímpica em Cubatão após amputar um braço e uma perna em acidente envolvendo um trem, em 2014, conquistou o bronze paralímpico no revezamento misto 4x50m livre até 20 pontos nesta quinta-feira (26). Esta é a primeira medalha de Melone nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.
Apesar de não ter entrado na água na prova da medalha, Melone e Laila Abate fizeram parte da equipe do revezamento e ajudaram a colocar o Brasil na prova final. Na semifinal, o Brasil avançou com o sexto melhor tempo. O time entrou na água com Eric Tobeira (classe S4), Gabriel Melone (classe S6), Patrícia dos Santos (classe S4) e Laila Abate (classe S6).
Na final, o quarteto brasileiro foi formado por Patrícia Pereira dos Santos, Daniel Dias, Joana Neves e Talisson Glock, com o tempo de 2min24s82. O ouro ficou com a China (2min15s49, novo recorde mundial) e a prata com a Itália (2min21s45).
O revezamento de 20 pontos compreende um somatório a partir das classes dos nadadores. Por exemplo, Patrícia é da classe S4, Daniel da S5, Joana também da S5 e Talisson, S6. Unidos, somam 20 pontos.
Drama - Em outubro de 2014, então adolescente, Melone tentava passar por cima do trem em movimento usando a escada de um dos vagões, quando caiu nos trilhos, próximo a um viaduto da Via Anchieta. A composição passou por cima dele. Regatado, foi levado a um hospital, mas teve a perna e o braço esquerdos amputados.
Internado, Melone somente acordou 11 dias depois, sem saber o que havia acontecido. Após descobrir a amputação, decidiu reescrever seu destino. Com o apoio da família e como medida de reabilitação, começou a nadar na piscina da Prefeitura de Cubatão. Os médicos e técnicos viram que o futuro atleta estava se desenvolvendo bem. Ali, Melone começou a se tornar atleta paralímpico.
“Quando a gente quer, a gente persiste, então, eu continuei treinando, focando nos meus objetivos e melhorando cada vez mais”, conta. Em 2016, ele foi convidado a integrar a equipe paralímpica da Associação Paradesportista do Litoral Paulista (APLP), em Praia Grande.
Em junho de 2018, durante uma competição rotineira, ele conheceu a atual esposa, a paratleta Emyly Melone Silva, que morava em Uberlândia (MG). Eles começaram a namorar à distância e, no mesmo ano, foi chamado para a equipe do Praia Clube, que ficava na cidade da até então namorada. Em 2019, se mudou para Minas Gerais, e se casou.
Os esforços deram resultado, e o cubatense passou a integrar a seleção brasileira de paratletas. A vitória foi dedicada à família. “Veio [à cabeça] tudo que passei, todos os meus familiares, minha esposa, que também me ajudou bastante. Então, acho que foi uma vitória para ela [avó], que faleceu, e para o meu padrasto, também, que sempre me ajudou no que era possível. Essa vitória não é só para mim, e sim, para eles”. A avó e o padastro faleceram por complicações decorrentes da Covid-19.
Apoio – O secretário de Esportes de Cubatão, Alessandro Bortolomasi, enalteceu a conquista: “Melone, um jovem que passou por uma dificuldade e encontrou, no esporte, um alento. Isso nos faz crer que a cada dia mais precisamos incentivar o esporte de inclusão, de forma que mais pessoas, com algum tipo de deficiência, seja ela física ou mental, possam ter novos projetos na vida”.
Bortolomasi anunciou que, em 2022, Cubatão terá projetos de paratletismo e caratê de inclusão. “Recentemente fechamos convênio com a Casa da Esperança para que seus freqüentadores possam praticar natação todas as quartas e sextas-feiras no Centro Esportivo Romeirão”. Nesta sexta (27), ocorre a aula inaugural, a partir das 9 horas.
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