Tenho uma vizinha … Não que seja má pessoa. É do tipo que sai pela manhã e chega à noite, não olha para os lados, não cumprimenta os vizinhos; ao contrário da personagem de Nelson Rodrigues, a “vizinha gorda e patusca”, cheia de varizes e sempre com uma opinião para dar. Minha vizinha, sem encantos pessoais, trabalha fora, não sei em quê, e que eu saiba ou veja, não fala com ninguém, mas se dirige ao filho mesmo antes de abrir a porta de casa, aos berros para todo o quarteirão
– Tadeu, você já lavou a louça?
O menino, filho único, de seus 18 anos, estranhamente olha para a mãe, e sem saber o que responder, fica alguns segundos em silêncio, dado o inusitado da questão. Tinham acabado de pôr os pés em casa.
– Tadeu, você não vai me responder? Você pensa que já é homem? Respeite sua mãe!
Passados alguns minutos…
– Tadeu, vá escovar os dentes. E não pense você em deitar sem estudar que amanhã você tem prova.
Ouço o garoto resmungando, mas não consigo compreendê-lo, até que ele consegue responder.
– Mãe, amanhã é feriado.
– Ah, é? Não importa, tem que estudar assim mesmo, senão vai ficar igual a seu pai, aquele imprestável.
No mais das vezes, a casa está sempre às escuras, em silêncio.
Esse é um quadro ficcional. Qualquer semelhança com fatos reais, não é mera coincidência.
Levanta o dedo quem não tem um vizinho, uma amiga ou um familiar com esse perfil.
Irritação, mal humor, ansiedade, insegurança e isolamento social, não é um perfil saudável. Esse não é um jeito próprio de ser. Fadiga fácil, desesperança, perda de interesses, sono excessivo, dificuldade de concentração, sentimento de culpa, mau humor e irritabilidade são sintomas do Transtorno Depressivo Persistente, a distimia. O difícil é convencer o mal-humorado que ele precisa procurar ajuda psiquiátrica. Porque ele sofre, faz as pessoas que estão em sua volta sofrerem, mas pelo estigma da doença mental, não admite a possibilidade de ser portador de um transtorno de humor. Esta ausência de reconhecimento da doença faz com o que o prejuízo à qualidade de vida de seus portadores seja considerado maior até que nos demais tipos de depressão.
Há uma série de evidências que mostram que a depressão seja uma doença determinada por alterações químicas no cérebro, principalmente com relação aos neurotransmissores serotonina e noradrenalina, substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. E, ao contrário que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais muitas vezes são consequência e não a causa da depressão.
Segundo informações obtidas no site do Ministério da Saúde, a depressão chega a atingir cerca de 15,5% dos brasileiros, sendo a maior causa de afastamento do trabalho.
A doença do mau humor tem cura? Sim. Ninguém nasceu para sofrer desse jeito. E, pior, se enganando como se isso fosse normal. A cura pode ser alcançada com o uso de medicamentos antidepressivos bastante seguros se receitados por psiquiatra e com acompanhamento de um psicólogo.
Pare de dar canelada nos outros e vamos embora ser felizes. Levante e sacuda a poeira. Procure ajuda. Gente foi feita pra brilhar.
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