Por Mário Maurici de Lima Morais*
Em audiência pública realizada na última segunda-feira (24) na Câmara Municipal de Cubatão, a Autoridade Portuária de Santos (APS) sinalizou para a possibilidade de analisar a viabilidade técnica de outras áreas na cidade, que não a Ilha do Tatu, para a construção de um pátio de caminhões. É um primeiro avanço importante nesse debate, que caminhava para um impasse sem solução aparente.
De um lado, existe a expansão das atividades do Porto de Santos, que está em franco crescimento e registrou em 2024 o maior resultado anual da sua história, com 179,8 milhões de toneladas no acumulado entre janeiro e dezembro. Para que a curva de alta não mude de trajetória, existe a necessidade de ampliação, com a construção de centros logísticos como o que está previsto em Cubatão.
No entanto, a possibilidade de implantação de um pátio de caminhões na Ilha do Tatu uniu a cidade em consenso poucas vezes visto: todos são contrários ao projeto. Os motivos são legítimos. O local escolhido pela APS não é um terreno vazio, mas sim um patrimônio ambiental preservado, berço de manguezais, áreas de restinga e território de guarás-vermelhos.
Para além da fauna e flora, o projeto irá desvalorizar os imóveis do entorno da Ilha do Tatu e agravar o risco de alagamentos na região, uma vez que o solo permeável de uma área equivalente a 50 campos de futebol será substituído por uma camada com algum grau de impermeabilidade para garantir o fluxo de caminhões pesados. Adicione a esta equação o aumento significativo da poluição sonora e o comprometimento da qualidade do ar.
A construção do pátio de caminhões pela APS tem potencial para gerar 1.550 empregos diretos e indiretos em Cubatão e injetar no orçamento municipal quase 28 milhões anuais em tributos como ISS e IPTU, segundo dados da APS, contestados por diversos observadores. Mas qual é o custo aceitável para o desenvolvimento econômico? A população de Cubatão já entendeu que os benefícios não compensam os impactos negativos. Não se o projeto for implantado na Ilha do Tatu.
Nesse contexto, a disposição da APS em estudar uma outra área para o empreendimento deve ser compreendida como uma vitória parcial. Cabe agora à Prefeitura de Cubatão dar o próximo passo e apresentar formalmente terrenos alternativos para abrigar o projeto. Áreas que permitam o crescimento do Porto de Santos, sem que isso gere impacto ao meio ambiente e à população da cidade
É fundamental distensionar esse debate e entender que todos os interesses são legítimos. O mais importante nesse processo é a preservação da Ilha do Tatu. E, ao fim, a história irá exaltar não quem destruiu Cubatão, mas quem a protegeu.
*Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual em São Paulo.
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